O mês tinha se
iniciado há alguns dias e eu podia sentir a esperança de novas experiências,
novas energias, pois tudo parecia novo, mas, ao mesmo tempo, fora apenas a
passagem de um dia para o outro.
Lembro de me sentir
muito feliz, animada até pelo fato de eu ter, com muita força de vontade,
vencido os primeiros dias de faculdade.
Não muito longe de
mim, outras pessoas acordavam para enfrentar mais um dia de trabalho, muito
trânsito, ônibus lotados.
Por fim, a rotina
parecia a mesma.
Porém, no dia 11 de maio, quinta-feira,
uma jornalista, muito mais nova do que eu, provavelmente recém-formada, acordou
para mais um dia de trabalho na redação. Parecia normal encarar mais uma
reunião de pauta, pegar o seu bloquinho de anotações e sair à procura de uma
entrevista, de uma boa manchete.
Naquele dia, ela
acordou, chegou cedo ao trabalho porque sabia que era responsável por uma
entrevista e estava animada por se tratar de alguém que vinha fazendo sucesso
entre os jovens.
Ela provavelmente
fez uma pesquisa a fim de fazer as perguntas certas, afinal se tratava da
divulgação do novo CD do cantor, então, a jovem deve ter se sentido feliz por conseguir uma
entrevista e muito mais pelo entrevistado não ter desmarcado por ele saber que
seria uma coisa boa para sua carreira.
E lá foi ela em
direção a entrevista, chegou no horário, pegou seu celular – ou gravador – e viu
que estava tudo pronto, checou sua maquiagem e sorriu. Ela tinha se preparado
para esse dia e, no fim, estava mesmo acontecendo.
Começara a
entrevista até ouvir...
“Você
é uma gostosinha”
“Eu
te quebraria ao meio se te pegasse”
Espera... Volta a
fita. Ele disse o quê? Será mesmo que ele estava falando com ela?
Sim, infelizmente, ele
estava.
E, naquele dia, ela
sabia que, como profissional, como mulher, não poderia ficar calada, ela não
podia simplesmente fingir que aquilo não aconteceu e, por esse motivo, foi até
a Delegacia para registrar um Boletim de Ocorrência.
Um longo processo
se iniciava naquele dia.
Algumas semanas
depois, no dia 3 de junho, o caso foi revelado à Imprensa pelo site que, até
então, a jornalista, cujo nome não foi revelado, trabalhava.
A Imprensa ainda
lidava com o caso do estupro coletivo, novos casos surgiam e parecia
interessante para os telejornais noticiarem que as mulheres, enfim, tomaram
coragem para denunciar crimes tão graves.
Até que...
Repórter
é assediada pelo cantor Biel
Cantor
Biel é acusado de assédio sexual por repórter
Repórter
diz que foi assediada por cantor Biel
Isso! Alguns
veículos de comunicação comemoram, alguns se mobilizam para entrar em contato
com a assediada para garantir uma entrevista.
Enquanto isso, a
assediada, que é mulher, jornalista, repórter, não imagina que, naquele dia,
estava colocando em xeque seu caráter, sua dignidade e seu emprego.
O veículo de
comunicação garante apoio a sua funcionária em tudo o que ela precisar durante
o processo e o caso ganha notoriedade, a repercussão é grande, surgem outras
denúncias contra o contar e mulheres – de todas as idades e de diferentes
lugares – apoiam a jornalista.
Porém, duas semanas
depois, na última sexta-feira, 17, a Imprensa revela que a repórter foi
demitida após o retorno de uma licença. O veículo, em nota, esclarece que a
demissão aconteceu por causa de uma reestruturação pelo qual a empresa passa no
momento, o que surpreende colegas da própria redação, que desconheciam a
possibilidade de uma demissão.
Essa é a história
de uma mulher, que, assim como eu, estudou para ter um bom emprego.
E, agora, ela não é
mais a repórter, é a jornalista – assediada e desempregada – que enfrentará um
processo judicial contra o cantor, sozinha.
Jornalistas, empaticamente,
apoiam a causa em prol de um bem maior e se juntam nas redes sociais para
discutir o assunto, uma vez que, poucos dias antes, estoura a notícia de que
jornalistas do Paraná sofrem sanções por denunciar o aumento de salários no
Judiciário.
Então, uma outra
discussão se inicia: Assédio até quando?
Jornalistas,
especialmente as mulheres, se unem e criam a campanha, que divulga a hashtag
#jornalistascontraoassedio e sua fanpage já conta com mais de 4.500 seguidores
no Facebook. Em um vídeo, várias jornalistas relatam comentários machistas que
já ouviram de entrevistados, chefes e até autoridades. "Se eu soubesse que
você era bonita assim te dava uma exclusiva", conta uma jovem, sobre uma
fonte. "Esse político só vai falar pra sua matéria se você for tomar um
café com ele, jogar um charme", ouviu outra.
Essa poderia ser a
história de qualquer pessoa, poderia até mesmo ser a minha história, a sua, de
seus amigos. Essa é uma história de que, independentemente do que aconteça,
assédio é CRIME.
Essa é uma história
de que assédio PRECISA ser denunciado e de que ninguém deve passar por isso e
se calar.
Como estudante de
jornalismo e mulher, eu digo não ao assédio e...
Eu não vou me calar!