terça-feira, 21 de junho de 2016

Eu digo não ao assédio


Acordei. E era um novo dia.
O mês tinha se iniciado há alguns dias e eu podia sentir a esperança de novas experiências, novas energias, pois tudo parecia novo, mas, ao mesmo tempo, fora apenas a passagem de um dia para o outro.
Lembro de me sentir muito feliz, animada até pelo fato de eu ter, com muita força de vontade, vencido os primeiros dias de faculdade.
Não muito longe de mim, outras pessoas acordavam para enfrentar mais um dia de trabalho, muito trânsito, ônibus lotados.
Por fim, a rotina parecia a mesma.
Porém, no dia 11 de maio, quinta-feira, uma jornalista, muito mais nova do que eu, provavelmente recém-formada, acordou para mais um dia de trabalho na redação. Parecia normal encarar mais uma reunião de pauta, pegar o seu bloquinho de anotações e sair à procura de uma entrevista, de uma boa manchete.
Naquele dia, ela acordou, chegou cedo ao trabalho porque sabia que era responsável por uma entrevista e estava animada por se tratar de alguém que vinha fazendo sucesso entre os jovens.
Ela provavelmente fez uma pesquisa a fim de fazer as perguntas certas, afinal se tratava da divulgação do novo CD do cantor, então, a jovem deve ter se sentido feliz por conseguir uma entrevista e muito mais pelo entrevistado não ter desmarcado por ele saber que seria uma coisa boa para sua carreira.
E lá foi ela em direção a entrevista, chegou no horário, pegou seu celular – ou gravador – e viu que estava tudo pronto, checou sua maquiagem e sorriu. Ela tinha se preparado para esse dia e, no fim, estava mesmo acontecendo.
Começara a entrevista até ouvir...

“Você é uma gostosinha”
“Eu te quebraria ao meio se te pegasse”

Espera... Volta a fita. Ele disse o quê? Será mesmo que ele estava falando com ela?
Sim, infelizmente, ele estava.
E, naquele dia, ela sabia que, como profissional, como mulher, não poderia ficar calada, ela não podia simplesmente fingir que aquilo não aconteceu e, por esse motivo, foi até a Delegacia para registrar um Boletim de Ocorrência.
Um longo processo se iniciava naquele dia.
Algumas semanas depois, no dia 3 de junho, o caso foi revelado à Imprensa pelo site que, até então, a jornalista, cujo nome não foi revelado, trabalhava.
A Imprensa ainda lidava com o caso do estupro coletivo, novos casos surgiam e parecia interessante para os telejornais noticiarem que as mulheres, enfim, tomaram coragem para denunciar crimes tão graves.
Até que...

Repórter é assediada pelo cantor Biel
Cantor Biel é acusado de assédio sexual por repórter
Repórter diz que foi assediada por cantor Biel

Isso! Alguns veículos de comunicação comemoram, alguns se mobilizam para entrar em contato com a assediada para garantir uma entrevista.
Enquanto isso, a assediada, que é mulher, jornalista, repórter, não imagina que, naquele dia, estava colocando em xeque seu caráter, sua dignidade e seu emprego.
O veículo de comunicação garante apoio a sua funcionária em tudo o que ela precisar durante o processo e o caso ganha notoriedade, a repercussão é grande, surgem outras denúncias contra o contar e mulheres – de todas as idades e de diferentes lugares – apoiam a jornalista.
Porém, duas semanas depois, na última sexta-feira, 17, a Imprensa revela que a repórter foi demitida após o retorno de uma licença. O veículo, em nota, esclarece que a demissão aconteceu por causa de uma reestruturação pelo qual a empresa passa no momento, o que surpreende colegas da própria redação, que desconheciam a possibilidade de uma demissão.
Essa é a história de uma mulher, que, assim como eu, estudou para ter um bom emprego.
E, agora, ela não é mais a repórter, é a jornalista – assediada e desempregada – que enfrentará um processo judicial contra o cantor, sozinha.
Jornalistas, empaticamente, apoiam a causa em prol de um bem maior e se juntam nas redes sociais para discutir o assunto, uma vez que, poucos dias antes, estoura a notícia de que jornalistas do Paraná sofrem sanções por denunciar o aumento de salários no Judiciário.
Então, uma outra discussão se inicia: Assédio até quando?
Jornalistas, especialmente as mulheres, se unem e criam a campanha, que divulga a hashtag #jornalistascontraoassedio e sua fanpage já conta com mais de 4.500 seguidores no Facebook. Em um vídeo, várias jornalistas relatam comentários machistas que já ouviram de entrevistados, chefes e até autoridades. "Se eu soubesse que você era bonita assim te dava uma exclusiva", conta uma jovem, sobre uma fonte. "Esse político só vai falar pra sua matéria se você for tomar um café com ele, jogar um charme", ouviu outra.
Essa poderia ser a história de qualquer pessoa, poderia até mesmo ser a minha história, a sua, de seus amigos. Essa é uma história de que, independentemente do que aconteça, assédio é CRIME.
Essa é uma história de que assédio PRECISA ser denunciado e de que ninguém deve passar por isso e se calar.
Como estudante de jornalismo e mulher, eu digo não ao assédio e...


Eu não vou me calar!

2 comentários:

Unknown disse...

Isso mesmo! Eu apoio e digo não ao assédio!

Unknown disse...
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Cantinho da Quel Published @ 2014 by Ipietoon